Transtorno Dismórfico Corporal – O desencontro entre mente e corpo
O transtorno dismórfico corporal (TDC) é a condição neuropsiquiátrica mais relevante para o aumento de tratamentos médicos com a aparência, num contexto sociocultural que valoriza a atratividade.
Não obstante, o belo pode ter sentidos diferentes para o cirurgião plástico e para um paciente com TDC. Para o cirurgião, que está preso à técnica, o belo pode ter um sentido real, enquanto para o paciente com TDC o sentido é imaginário. Ele busca a normalidade, quer pertencer a um padrão, ainda que a sua demanda seja imaginária; e o
médico tem a obrigação ética de conhecer e oferecer o “normal”. Ou seja, existe um limite para ambos – nem sempre é possível melhorar.
Por isso, é muito importante que a triagem e a avaliação de risco do TDC, como um checklist, seja criteriosamente identificado no pré-operatório de um procedimento em cirurgia plástica. Cerca de 80% dos cirurgiões identificam o TDC apenas após a cirurgia, uma vez que, muitos desses pacientes, são funcionais e têm um discurso adaptado e adequado à realidade que buscam modificar.
Ser portador de TDC, dentro de um espectro leve a moderado, não é critério de exclusão para um procedimento estético e/ou cirúrgico. Por isso, o tratamento do TDC transita necessariamente por uma equipe multiprofissional.
O TDC revela em sua condição um estigma, quando comparado a outros transtornos mentais, e é facilmente banalizado por confundir-se com vaidade e aparente futilidade. Ou, subestimado, por profissionais da saúde mental, ao ser confundido como mera apresentação clínica de outros transtornos mentais. Por isso, a maioria dos pacientes
sente vergonha e prefere não falar sobre seus sintomas.
Espera-se assim que o livro “Transtorno Dismórfico Corporal – A mente que mente” possa encorajar pacientes e profissionais de saúde, que, respectivamente, sofrem e lidam com o TDC, a procurar e adotar melhores estratégias de tratamento.
Maria José Azevedo de Brito